sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Será que os músculos têm algo a ver com a Felicidade?

Dr. Gaiarsa diz:

"Têm. Demais. Sempre que falei em “automático ” (habito, rotina, repetição) eu me referia a esse departamento do cérebro que ocupa dois terços do mesmo. Tudo o que as pessoas pensam que são as palavras que controlam, aconselham, impõem, proíbem estão…erradas. Quem nos segura são inibições motoras que adquirimos na infância, imitando amigos e inimigos - sem que ninguem percebesse o que estava acontecendo Foi assim que nos socializamos - por imitação - e depois fomos levados por essas imitações. Note os termos: somos levados - ou prêsos - por essas imitações muito mais eficientes do que bons conselhos ou boas intenções."

Gaiarsa é psiquiatra e escritor com mais de 25 livros já publicados.

Ele continua sua explanação: "Elas são uma verdadeira prisão - a prisão do sempre o mesmo, do “como se deve”, do “sempre fiz assim”, do “é costume de minha família”, “é o certo”…A Felicidade - e o medo - acontecem quando esta prisão afrouxa de repente e V. se sente no espaço, livre, flutuando (na verdade, fóra do espaço…). Estranhou o medo ? Não estranhe, não. Nossa reação animal e humana quando entramos em uma situação nunca antes experimentada é de medo, de “e agora, o que vai acontecer?”. Logo depois: preciso voltar logo ao…”normal” ( à cadeia) . Para bem compreender estas palavras é preciso certa imaginação…corporal. Imagine que V. de repente é um balão de borracha com a sua forma de gás. Imagine que todas as coordenadas de tempo e espaço desapareçam e V. não sabe mais como está, onde está, como se mexer - nem como párar de pé. É assim que nos sentimos quando felizes, “inspirados”, “em transe” - até “iluminados”. É bem assim: como se V. sem o treino do astronauta, ficasse de repente sem pêso - fora de qualquer espaço, incapaz de qualquer gesto deliberado - bobo…Se este estado estiver ligado à presença ou à lembrança de uma pessoa (a mulher amada) V. talvez se deixe levar porque muito se fala dessa leveza. Mas se a leveza acontecer por outros motivos, V. vai entrar em pânico - sem saber em que mundo V. foi parar. Se V. está me acompanhando então sabe do que estou falando: a Felicidade maior é sentir-se Livre, sem amarras, sem rotina, sem obrigação, sem objetivo. Sentir-se feliz consiste em passar para um mundo sem gravidade (por um tempo que seja - claro). É sentir-se outro - um estranho - um E.T. Cuidado com a felicidade. Ela pode enlouquecer - a Santa Loucura - dos Misticos - quando deixam de ser “eles mesmos”, deixam de ser humanos, quando trocam de corpo, quando se despem de todos os hábitos e laços terrenos. Chega? Pra mim chega. Espero ter sido de alguma utilidade para quem leia estas mal traçadas linhas. Garanto que foram ecritas em estado de total sobriedade - embora, no dizer de muitos, certas drogas possam produzir efeitos parecidos - e talvez por isso viciem. Penso até que certas drogas produzem Felicidade nas primeiras tomadas mas depois o viciado fica viciado por isso mesmo: por querer experimentar mais vezes o que só acontece uma ou poucas. Difícil voltar para esse Vale de Lágrimas depois de ter passeado entre núvens."

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